Apartamento 131
Todas essas cercas elétricas nos muros me deixam profundamente enjoado. Não são nada além de um lembrete da estupidez humana. Patéticas proteções contra os males que causamos a nós mesmos. Aceitamos esta prisão, travestida de segurança, como algo natural. Vivemos cercados de medo e repúdio, defendendo nossos pseudo-direitos em detrimento da humanidade. Somos os reis de nossos castelos de areia, a um sopro de colapsar. Sentamos em nossos tronos de frente à televisão, entupindo a cabeça com porcarias aleatórias, vendendo nosso tempo. Assim podemos esquecer o quão patético somos.
Estímulos, prazeres destrutivos, distrações sintéticas. Vivemos sem precisar nos encararmos. Vivemos sem pensar. Vivemos sem sonhar. Vivemos num paraíso artificial e ainda mais efêmero que a própria vida, querendo sempre mais. Talvez seja por isso que a morte nos dói tanto, se não aprendemos a viver como saberemos morrer?
Estas cercas elétricas são o reflexo da minha indiferença. Eu sou reflexo da tristeza, sempre que viro a cara para o mendigo. Também sou quando tranco o portão e digo “boa tarde” ao porteiro. Quando entro no elevador e pressiono o décimo terceiro andar. Eu sou o próprio engano, quando giro a chave, abro a porta, e entro no apartamento 131 deste prédio sem alma.