Fuga
Uma linha imaginária,
Psicótica e compulsiva.
Vivendo numa espiral,
Autodestrutiva.
Balançando os pés,
Sentindo a fricção.
Pra que tanta comoção?
Conte de um a dez.
Conte até dez,
Conte...
De...
Um,
Dois,
Três,
Quatro.
Quatro mãos,
Quarto, quadro.
Quatro paredes,
Janela e jaula.
E o que mais, além?
Flutua e deriva,
Dá alucinação.
Semi-privado da vida,
Espero anunciação.
Anuncio,
Cinco.
Anuncio,
Seis.
Mais tênue, um passo.
Um passo. Um passo.
É tudo que preciso,
Quero fugir deste abismo.
Sete,
Minhas sete cabeças.
Oito,
Pernas.
O tempo continua correndo
E eu ainda continuo parado.
Esperando, retorcendo.
Torcendo e distorcendo.
Descendo,
Tenho certeza.
Mas do que é?
Filho de peixe
Precisa ter fé.
Nove. Nove. Nove.
Nove. Nove. Nove.
Nove. Nove. Nove.
Simetria perigosa,
Temerária, aprisiona.
Nos fazemos escravos,
É assim que se sonha.
Dez.
E eu me faço em dez.
Impulsiono os pés.
Corro, agora corro.
Sem ar e sem rima.
Sem métrica.
Sem palavra.
Sem dor,
Sem.
Corro até sem.