Ponto cego

Igor Gehrke
1 min readAug 4, 2020

--

Igor Gehrke Curzel — Subverso

Nos geradores das usinas a energia fervilha,
Num zumbido monótono ela corre insaciável.
Corre pelos postes,
Corre pelos transformadores.
Percorre um emaranhado de fios e caos,
Apenas para chegar à insignificante lâmpada,
Que ilumina minha sala vazia.

Quebra-se nas esquinas, em cada canto,
Reflete no teto quase branco.
Absorve o rodapé marfim,
E emana dos vizinhos em meio-tom,
Essa mesma morbidez que chega a mim.
E não pense que é de graça,
Até a melancolia tem seu preço.
Ele chega indiferente e sempre pontual.

Vem sem vírgulas, sem reticências…
Vem logo colocando um ponto final.

Nos recorda da realidade, quão mordaz.
E apesar deste meu pesar,
A pena é apenas para os que escrevem.
É daqueles que sonham sem tentar.
Que perambulam por uma casa deserta,
Despidos de intenções, cansados de esperar.
De todos que vagam confusos,
Sem saber de onde vieram.
Sem saber para onde vão.

--

--

No responses yet